Polícia Federal desmonta plano de tráfico de drogas para a Europa

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Polícia Federal desmonta plano de tráfico de drogas para a Europa
© RECORD

O plano consistia em prender a carga de cocaína ao casco de um transatlântico

Uma investigação acompanhada com exclusividade pelos repórteres da RECORD: um plano da maior facção criminosa do Brasil para enviar drogas para Europa é desvendado. A quadrilha sai do litoral de São Paulo e viaja mais de 3400 km até o porto de Santana, no Amapá, mas não faz ideia de que cada avanço é observado de perto por policiais disfarçados.

Cento e cinquenta e quatro quilos de cocaína cuidadosamente embalados foram impedidos de chegar ao seu destino no continente europeu. A droga foi tirada do casco de um transatlântico carregado de madeira antes de o navio seguir para Portugal. Foi a primeira vez que uma apreensão desse tipo foi feita no Amapá, Região Norte do Brasil.

Mas até capturar os criminosos e a cocaína, a Polícia Federal fez um trabalho de campana diferente: gravou cada passo dos suspeitos, ficou lado a lado dos investigados e descobriu que um dos mergulhadores quase morreu nas águas barrentas do Amazonas.

Ângelo Lourenço Bonfogo, natural de São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, é um mergulhador profissional. No perfil dele na rede social tem mergulhos em águas cristalinas, mas a Polícia ficou sabendo que ele tinha chegado ao norte do país para uma missão milionária: acoplar uma carga de cocaína avaliada em R$ 30 milhões no casco de um navio atracado no porto de Santana, cidade vizinha à Macapá, capital do Amapá.

Os investigadores levaram a sério a denúncia e constataram que uma pessoa de nome Ângelo desembarcou no aeroporto de Macapá e alugou uma chácara na cidade por um site de hospedagem. Outra informação era que Ângelo seria remunerado com R$ 300 mil por esse trabalho.

Ali começava uma vigilância intensa com câmeras. Quatro dias depois, Ângelo ganhou a companhia de outro homem, também de São Bernardo do Campo, que chegou a Macapá, outro mergulhador. Os dois passaram a andar juntos o tempo todo, com mais um homem não identificado, e a Polícia sempre de olho.

Sete dias na estrada. Esse foi o tempo da viagem de Praia Grande, no litoral de São Paulo, até Macapá. Um dos mergulhadores rodou 3.400 km com a caminhonete dele até o norte do Brasil. Até agora, nem mesmo a Polícia entende por que essa viagem foi feita pela estrada.

Segundo a Polícia Federal, Ricardo de Souza Silva é suspeito de integrar o Primeiro Comando da Capital (PCC). Já foi preso em flagrante por tráfico de drogas em 2012 no ABC Paulista. Ângelo, Ricardo e o homem não identificado foram almoçar num shopping de Macapá. Um dos agentes chegou com a câmera bem perto da mesa.

No dia seguinte, os três suspeitos foram de carro até o porto de Santana, a 23 km de Macapá, estacionaram, desceram e seguiram até um barco. O policial estava bem do lado. A missão era observar o transatlântico ancorado no cais. Eles estudavam o posicionamento do navio com bandeira da Libéria, Dina Floresta, que seguiria para Portugal. No casco, ia ser camuflada uma carga de 154 kg de cocaína.

Mais dois homens chegados do Rio Grande do Norte se juntaram ao grupo com uma caminhonete marrom. Harrison Magalhães Silva e Thiago Francischetti foram às compras, segundo a Polícia Federal. Adquiriram um funil e película de plástico comumente usada para embalar drogas. Em outro estabelecimento, compraram material de mergulho. Com as sacolas, voltaram para o carro e seguiram de volta para a chácara, onde já estavam Ricardo e Ângelo.

Os policiais acompanhavam cada passo dos investigados.

Na noite de 5 de abril, eles seguiram a caminhonete dos suspeitos até que eles pararam na beira do rio Amazonas. Estava muito escuro e por isso os policiais não conseguiram registrar imagens, mas viram Ângelo e Ricardo descerem da caminhonete com o equipamento de mergulho, entrarem na água, atracarem na margem, voltarem na caminhonete, pegarem duas bolsas grandes, retornarem à embarcação e saírem pela água em direção ao Porto de Santana.

Um policial posicionado dentro d’água registrou a entrada dos homens no barco. Já um drone, a serviço da Polícia Federal com câmera térmica, flagrou o deslocamento do barquinho em direção ao navio.

A Polícia Federal pediu e a Justiça autorizou a inspeção no navio e também na chácara alugada. Era hora de comprovar a tese de tráfico internacional de drogas.

O navio foi impedido de zarpar. Policiais federais espalharam avisos de que os mergulhadores da Polícia estavam em ação. Sem visibilidade alguma, os agentes chegaram na caixa de sucção de água no fundo do casco do navio. A investigação estava correta: tinha cocaína lá dentro. Em meio ao pó, estavam algumas ‘bolachas’ que funcionam como localizador por GPS.

Naquele mesmo dia, antes do sol nascer, os agentes acordaram os suspeitos. Tinham mandado de prisão temporária contra todos eles. Dentro da chácara, encontraram equipamentos de mergulho, cilindros de oxigênio, coletes, roupas e tubos. Segundo a Polícia, um dos mergulhadores admitiu que eles foram contratados para embarcar a cocaína e que teve medo de fazer o mergulho às secas.

Dados da Polícia Federal mostram que só em 2024, de janeiro a março, a Polícia Federal apreendeu em portos brasileiros 2,2 toneladas de cocaína prontas para embarcar para fora do país. O Brasil ocupa a quarta posição no ranking de apreensão de drogas da América Latina e do Caribe, segundo a ONG Inside Crime. No ano passado, a Polícia Federal apreendeu mais de 72 toneladas. O escritório de drogas das Nações Unidas diz que mapeou um aumento do tráfico de drogas na região norte do Brasil.

Segundo o advogado de defesa, a Polícia Federal errou na conclusão da investigação. Os clientes dele foram ao navio para roubar a droga que já estava lá e não para enviá-la ao exterior. Os agentes ainda investigam de onde vieram os 154 kg de cocaína e a qual facção pertence a carga que iria para Portugal.

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