O documentário também fala sobre os atritos e as conspirações entre Putin e seus detratores
No documentário ‘Alvorada em Moscou’, Roberto Cabrini traz a ascensão e a consolidação de Vladmir Putin como presidente da Rússia. Confira.
Vladimir Putin construiu uma sólida carreira na KGB, o Serviço Secreto Russo. Sergei Pugachev é um dos amigos íntimos de Putin. Ele conta que naquela época, Putin era o chefe do FSB, o Serviço de Segurança Federal, herdeiro da KGB. Em 1994, iniciou a vida pública como vice-prefeito em São Petersburgo. Em 1999, tornou-se primeiro-ministro do então presidente Boris Yeltsin. Nesse momento, Yeltsin já preparava Putin para ser seu sucessor.
Em 2000, ele é eleito após a renúncia de Boris Yeltsin. Na posse, Putin reinstaura o hino usado na antiga União Soviética. Para os especialistas, esse foi o primeiro sinal do que estava por vir. Nessa época, o ocidente estava obcecado com um novo inimigo, Osama bin Laden.
Putin se aproveita disso. Ele enviou a mensagem de que estava com o ocidente contra os terroristas e desviou a atenção. Nesse período, a Rússia foi ascendendo.
Caso Alexander Litvinenko

Alexander Litvinenko trabalhava no FSB. O jornalista Luke Harding explica que o ex-oficial atuava na área de combate ao crime e ao tráfico organizado. Mas logo, Litvinenko percebe que o verdadeiro combate não acontecia na agência. Era uma indústria muito lucrativa, só funcionava porque as pessoas no topo do FSP acobertavam tudo. Alexander Litvinenko reclamou, inclusive, quando conheceu Vladimir Putin.
A esposa de Litvinenko detalha o encontro.
Foi tudo muito rápido. Claramente, Putin não tinha nenhum interesse em falar disso. Mas depois da reunião, nosso telefone foi grampeado. Alexander sabia que estava sendo monitorado e seguido e decidiu falar publicamente.
Litvinenko entra em uma batalha perigosa. Ele acusa Vladimir Putin de ser mandante de uma série de crimes. A família decide pedir asilo político na Inglaterra e passa a viver em Londres. A oposição russa segue o exemplo do ex-oficial e logo surge uma onda de denúncias contra o governo de Putin.
Vladimir Kara-Murza é um político da oposição russa e vice-presidente da ONG Open Rússia. Ele explica que, até o verão de 2003, todos os canais de televisão independentes já tinham sido fechados. O Estado recuperou o monopólio total da transmissão de televisão.
A perseguição não se restringe à mídia. Em outubro de 2003, o magnata do petróleo Mikhail Khodorkovsky é preso. Tratava-se do homem mais rico do país, fundador da primeira petrolífera da Rússia. As acusações eram de fraude. Mas, para Kara-Murza, ele foi preso por ser um forte opositor de Putin.
Foi um sinal muito claro para todos os empresários da Rússia. Se você se comportar como ele, a mesma coisa acontecerá com você.
Ele foi considerado culpado e condenado a 10 anos de prisão e, diante disso, os outros oligarcas aceitaram qualquer acordo. E Putin exigiu 50% de todos os lucros. Naquele momento, Putin se tornou o homem mais rico do mundo.
Apesar de tantas ameaças enfrentadas, a Rússia não era um problema para um acidente. Muito pelo contrário, afirma o jornalista britânico.
Depois do colapso da União Soviética, Londres se tornou um lugar muito acolhedor para os oligarcas russos. Era uma cidade onde esses bilionários podiam guardar o dinheiro com segurança, mandar os filhos para estudar. Os oligarcas russos são donos das mansões mais caras em Londres.
Luke Harding
Litvinenko não se intimida e continua a fazer denúncias. Ele é co-autor de um livro que trazia uma série de informações alarmantes.
Segundo o ex-oficial, quando Putin era primeiro-ministro, o FSB provocou atentados a bomba em várias cidades e colocou a culpa em terroristas da Chechênia para justificar uma guerra contra o país.
Em 2006, são aprovadas leis na Rússia que permitem que serviços especiais russos atuem em território estrangeiro contra o que considerem pessoas extremistas. Entre essas pessoas está Litvinenko. Segundo a esposa, ele sabia que estava nessa lista. Só não achava que era o primeiro nome.
Diante da situação Litvinenko pediu ajuda ao governo britânico. A resposta foi ‘não’. A Inglaterra não sabia do que o regime de Putin era capaz.
Luke Harding
Então, em 2016, uma jornalista foi assassinada.
Litvinenko vem à público e acusa diretamente o governo russo pelo ataque.
Poucas semanas depois, Litvinenko se encontra com dois russos. Um empresário e um segundo homem que se apresenta como sócio. Ele tem uma reunião com esses dois homens em um bar. Havia um bule de cerâmica na mesa. Foi sugerido a Litvinenko que ele tomasse um pouco de chá verde.
Segundo a esposa, ele voltou para casa após a reunião e por volta da meia-noite, meu marido começou a passar mal. No hospital, tentamos explicar que ele era um inimigo de Putin, mas não levaram a sério. Depois de 10 dias internado, Alexander começou a apresentar sinais de radioatividade.
No começo, nem o governo nem o serviço secreto britânico acreditavam em envenenamento.
Devido à insistência da família, a polícia testou a urina de Litvinenko em um laboratório militar. Foi encontrado polônio no material coletado, mas era tarde demais. Nunca descobriram a causa.
Em uma carta escrita alguns dias antes, Litvinenko escreveu:
Vocês podem me silenciar, mas esse silêncio tem um preço. Vocês podem conseguir silenciar um homem, mas protestos do mundo virão e o sr. Putin vai escutá-los pelo resto de sua vida.
Robert Owen foi juiz em vários julgamentos relacionados à morte de Litvinenko.
Foi uma profecia. O caso de Alexander Litvinenko ressoou pelos próximos 15 anos. Investigações policiais identificaram Andrey Lugovoy e Dmitry Kovtun e exigiram que eles fossem julgados na Inglaterra, mas a lei russa impede a extradição de seus cidadãos.
Robert Owen
Lugovoy negou as acusações. Além de não ser julgado, pouco depois, ele foi eleito para o Congresso Russo e ganhou imunidade parlamentar.
Putin reforçou o recado: A Rússia não estava disposta a negociações.
Apesar de todos os indícios, os líderes mundiais não tomaram nenhuma atitude. Achavam que, com as eleições de 2008, a era de Putin ia acabar.
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